Pensem em Rio de Janeiro. Agora retirem as histórias da bossa nova e tragam o mesmo desejo de beleza para um cenário atualmente sem mar, sem dunas, sem barquinhos ou garotas douradas.

O cenário carioca aqui apresentado é o Complexo de favelas de Manguinhos. Composto por 16 comunidades em situação de vulnerabilidade civil e socioambiental, as favelas do Complexo Manguinhos ultrapassam os limites do bairro homônimo. No passado, havia mar. Era a Enseada de Inhaúma que nunca lançou qualquer garota para ser canção.

O desejo de beleza que pedimos acima é para olhar aqueles que resistiram. Quem mora na favela é um resistente. E a própria favela se mantém através de uma série de enfrentamentos e histórias de luta. No mais das vezes, os moradores da favela são o lado mais fraco da corda; ao passo disso, tem se especializado em produzir vida apesar das condições adversas produzidas pelo capitalismo. Mas compreendam: nada de romantismo de contar sobre uma possível “felicidade apesar da adversidade”. Estamos aqui falando de olhar com bons olhos o enfrentamento que muitos fizeram ao poder estabelecido: no que podemos destacar os momentos de ocupação dos terrenos, no erguer das casas, a ajuda mútua, assim como a capacidade das pessoas se organizarem para exigir políticas públicas que garantam direitos, em tudo isso há o que se aplaudir. Não menor é o valor da produção de arte no território de Manguinhos. Neste último ponto, vamos colocar luz sobre uma arte de Manguinhos que ocupa terrenos estéticos e que organiza idéias exigentes por mudanças de ordem ética.

Pensem no Rio de Janeiro e, no lugar da bossa, vejam uma outra coisa nova: uma Soweto brasileira que se insurge teatral, pictórica e musicalmente.

Mandela Vive. Manguinhos exige viver.

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